terça-feira, março 19, 2024

Blueberry - Águia solitária

  


O terceiro volume da série Tenente Blueberry apresenta uma estrutura interessante, que lembra uma trama policial. 

Na história, Blueberry lidera a escolta de um comboio de armas e munições. Mais do que levar essas carroças em segurança, ele pretende chegar até o forte no qual está o general que comanda a guerra contra os índios. Blueberry pretende informá-lo que os apaches são inocentes do ataque aos colonos. 

Mas, conforme a caravana marcha, coisas estranhas começam a acontecer. Uma peça de toucinho desaparece, por exemplo. Quem está por trás dessas ações aparentemente sem sentido e com que objetivo? 

Mistério: por que alguém roubaria toucinho? 


Charlier manobra o roteiro de forma inteligente, mantendo o suspense e, quando descobrimos o que está acontecendo tudo faz sentido. É o tipo de coisa que lemos e pensamos: não poderia ser de outra forma, é óbvio. 

Quando esse mistério é solucionado, a trama se transforma num intenso triller de perseguição com os soldados fugindo de um verdadeiro exército de indígenas e tentando sobreviver mesmo com uma absoluta inferioridade numérica. 

Aqui destacam-se as estratégias inteligentes de Blueberry, que aproveita tudo, inclusive as dificuldades do terreno, como forma de defesa. 

Gir mostra seu talento em quadros como este. 


Há uma estratégia comum entre roteiristas de fazer os personagens agirem de forma tola como forma de fazer a história avançar.

Embora um ou outro dos militares aja de maneira idiota, Blueberry jamais o faz. Aqui cada personagem age de acordo com aquilo que o leitor espera sobre eles a partir das pistas deixadas pelo roteirista. Até mesmo quando erram, esses erros da consequência direta dessas pistas, e exemplo do soldado beberrão. 

Blueberry usa tudo a seu favor, inclusive as dificuldades do terreno. 


As dificuldades aparecem como parte das circunstâncias e nunca se maneira forçada, assim como as soluções para as mesmas.

Se Charlier dá uma aula de roteiro, Gir vai se mostrando um desenhista casa vez mais maduro e competente. Embora ainda esteja à sombra do mestre Jijé, ele já começa aqui a apresentar algumas das características que o fariam famoso, a exemplo do impressionante quadro do ataque dos índios à caravana, repleto de personagens e detalhes.

segunda-feira, março 18, 2024

Senhor Milagre – O super-artista das fugas

 


Jack Kirby era uma metralhadora de ideias. Quando foi para DC, criou uma infinidade de personagens que se tornariam parte essencial do cânone da editora. Entre esses muitos personagens estava o Senhor Milagre, uma homenagem de Kirby ao amigo Jim Steranko, que costumava fazer números de fuga.

A capa do número de estreia é uma das mais emblemáticas e impactantes das muitas que Kirby fez para a DC. Com uma perspectiva distorcida e exagerada, vemos o herói preso num foguete. Lá embaixo um mafioso diz: “Adeus, Mister Milagre! Você perdeu a aposta e a vida!”. Já o herói diz que os seus inimigos pensam que armadilha é inescapável, mas terão uma surpresa, enquanto sua figura avançar na direção do leitor. O efeito é impressionante.

Scott Free aparece na hora certa. 


O que vemos a seguir é Oberon prendendo o Senhor Milagre com correntes, colocando-o numa caixa de madeira e botando fogo. Quando um jovem interfere para salvar o herói é que descobrimos que aquele que está sendo preso não é Scott Free, mas Thaddeus, um velho escapista.

Esse começo é uma boa sacada de Kirby, que surpreende o leitor. O problema é que tudo depois disso é forçado.

O vilão tem mãos de aço e uma aposta que não quer perder. 


Scott Free, um meste das fugas, chega na hora exata para salvar o velho escapista de um ataque da Intergangue. Depois é a pessoa certa para substitui-lo. Talvez funcionasse se fosse melhor desenvolvido, mas da forma como foi feito só funciona se o leitor aceitar um monte de coincidências.

Como escapar da grande armadilha? 


Há outros problemas, como os diálogos. Em certos pontos, Scott chega a antecipar a fala de Oberon, indicando até mesmo o valor a aposta que deu origem à história: “Acho que sei o resto... estipularam um valor, algo como dez mil dólares... e fecharam negócio!”.

Explicando: a próxima pandemia

 

Uma boa dica para quem quiser entender o coronavírus é o episódio "A próxima pandemia", da série Explicando, na Netflix. As novas gripes geralmente surgem quando um humano infecta um animal, na qual o vírus sofre uma mutação e depois volta para os humanos. A gripe espanhola surgiu nos EUA quando um fazendeiro infectou um porco, que infectou humanos. 
A razão pela qual a maioria dessas novas doenças surgem na China são os mercados que vendem os mais variados tipos de animais vivos, de cachorros a morcegos. Esses locais são verdadeiros criadoros de doenças, com humanos infectando os mais variados tipos de animais e esses passando a doença para humanos. 
Fica a dica.

Entenda por que os comentários estão sendo moderados

 


 - Gian, entrei no seu blog e tentei comentar numa matéria, mas não ele não foi publicado imediatamente 

- Infelizmente eu tive que acionar a moderação de comentários. 

- Mas por quê? 
- Olha o tipo de comentário que os bolsominions estavam postando. 



- Caramba, são dezenas de comentários iguais o cara já começa te chamando de stalinista! 

- Pois é, virei um "extremista de esquerda stalinista"! 
- Caramba! 
- É o culto à personalidade. Como eles consideram o Bolsonaro um semi-deus, qualquer um que não o idolatre é imediatamente chamado de comunsita, petista, stalinista, dentista, skatista, surfista, remista. E pode colocar na conta vários outros "comunistas": Jim Starlin vira marxismo cultural, Raul Seixas vira marxismo cultural, Alan Moore vira marxismo cultural. E, para eles, comunista precisa ser preso. Para eles a Globo é comunista, a Folha de São Paulo é comunista, o Estadão é comunista. Esse tipo de gente só se informa pelo zap zap e por canais bolsonaristas como o Terça-livre. Qualquer coisa fora disso é comunismo. 
- O cara está te chamando de lulo-petralha?!!!



- Pois é, eu que nunca votei no PT, que sempre critiquei o PT, que na época da faculdade vivia em pé de guerra com os petistas da turma, de repente virei petralha só porque me recuso a idolatrar o mito. 
- E você praticamente nem fala de política no seu blog. 
- Pois é. Mas a estratégia deles é Dart Vader: ou você idolatra o Capitão ou é comunista, stalinista, petista, skatista, surfista, dentista, remista. Teve um "amigo" bolsominions que ameaçou me dar um soco só porque eu disse que político é para ser cobrado não para ser idolatrado. Outro disse que o pior tipo de "comunistas" são os "isentões": isentão aí significa alguém que se recusa a idolatrar o mito deles, mas ao mesmo tempo não idolatra o Lula, que se recusa a tecer elogios à ditadura militar, mas também não elogia a Coréia do norte. Antigamente para ser comunista precisava ser fã do Karl Marx, precisava ler o Manifesto Comunista, precisava acreditar em ditadura do proletariado. Hoje em dia, para ser comunista, basta não idolatrar o mito.
- Ele te acusa de cometer um gesto lulo-petista. Que gesto lulo-petista é esse?
- Me recusar a idolatrar o mito. Para quem escreveu esse comentário, qualquer um que não idolatre o mito está cometendo um gesto lulo-petista. Ou seja, na cabeça dele, está cometendo um crime. São pessoas que só se informam pelo zap zap e por vídeos de teoria da conspiração.
- Caramba, estou lendo aqui. O cara está ameaçando te denuncia... Te denunciar para quem? 
- Para os militres, provavelmente. 




- Estou vendo aqui. Ele te acusa de doutrinar os alunos. Fui seu aluno e você nunca falou de política em sala de aula. 
- Deve ser porque uso camisas da Marvel em sala de aula. Dizem que estou doutrinando os alunos a gostarem da Marvel. Nisso, confesso, sou culpado. Mas em minha defesa posso dizer que gosto da DC quando ela é desenhada pelo Garcia-Lopez.... rsrs... 
- Nossa, o cara diz que vai fazer você perder o emprego! Chega até a te chamar de estelionatário! 
- Só faltou dizer que vai me prender e  torturar pessoalmente para que eu confesse todos os meues crimes...kkkk Tudo isso porque eu me recuso a idolatrar o Capitão. E é esse pessoal que diz que é a favor da liberdade. A liberdade que eles querem é a liberdade de poder denunciar e prender quem pensa diferente deles. E como você pode ver, postaram essas ameaças dezenas de vezes no blog antes que eu bloqueasse os comentários. É por isso que não é mais possível comentar no meu blog. Infelizmente, tive que bloquear essa possibilidade de contato com meus leitores por causa desse tipo de comentário ameaçador.   
- Assustador, melhor manter os comentários do blog moderados mesmo.  
- Pois é. Melhor do que dar voz a gente desse naipe, que só se informa pelo zap zap e acredita em todas as teorias da conspiração possíveis. 

Guia de viagem - Montevideo

 


Montevideo é uma boa opção de destino turístico internacional para brasileiros. É fácil chegar na capital do Uruguai via carro ou ônibus. E a cidade vale a pena, principalmente graças aos edifícios e monumentos históricos. 
Uma ressalva: cuidado com os hotéis. Alguns têm fotos maquiadas no booking. O que ficamos foi um desses, Richmond. A diferença entre o hotel real e o que eu lembrava era tão grande que fiz questão de entrar no site do Booking novo para ver as fotos. Era o mesmo hotel, mas com fotos maquiadas. Além disso, o box para banho era tão pequeno que o jeito foi tomar banho com a cortina recolhida, o que molhava todo o banheiro.
Uma curiosidade é a praia. Montevideo tem muitos quilômetros de praias belíssimas e uma extensa beira Rio. Os habitantes locais descem dos prédios com suas cadeiras de armar, suas garrafas terminacas e cuias, afinal um dos principais programas da cidade é tomar o tererê na beira da praia. Talvez por todos já levarem suas própria bebida, não há quiosques ou vencedores ambulantes vendendo água ou água de coco, como no Brasil. Então, leve sua água. 
Prepare o bolso. A comida é cara. A boa notícia é que geralmente o cliente ganha um desconto se pagar no cartão. Então vale a pena usar o cartão em restaurantes.
O prato típico do Uruguai é o chivito, um sanduíche de prato com carne, batata frita, salada, ovo frito, carne, queijo e presunto. Uma verdadeira bomba calórica, mas vale a pena experimentar.  

Um dos locais mais conhecidos para se comer é o Mercado Del Puerto. Ali o churrasco é preparado na hora, de uma forma muito diferente do Brasil. Como usam madeira, ao invés de carvão, a carne é colocada ao lado do fogo, e não em cima. Há um prato chamado parrilha, que é um mix de carnes. Para carnívoros é literalmente um prato cheio. Além da carne costuma vir apenas um acompanhamento, chamado de guarnição, que pode ser pão, arroz, batata frita, purê ou salada, mas todos são pagos, então verifique o preço de tudo antes de pedir.

Atenção: coma nós balcões e não nas mesas chiques. Como chegamos cedo, vimos a organização. Eles simplesmente jogam no chão as toalhas de mesa e guardanapos e separam os que estão muito sujos. Os que ainda estiverem relativamente limpos são colocados de volta na mesa. 
La Fonda, um restaurante especializado em massas artessanais. 

Próximo do mercado um restaurante que gostamos muito foi o La Fonda, especializado em massas artesanais. As massas e molhos são preparados na frente dos clientes. Comemos um nhoque com creme de champions e nozes que estava simplesmente divino. 
As massas são preparadas na hora, na frente do cliente. 
O prato que comemos: nhoque com molho de  champions e nozes.

Uma das vantagens de Montevideo é que a maioria dos espaços públicos, como praças e praias, tem wi-fi gratuito, o que facilita bastante para consultar um mapa ou chamar um Uber, então faça o login e aproveite. 
Uma boa opção para conhecer a cidade é pegar o bus turístico, que percorre os principais pontos turístico. Uma dica: se for descer em locais como o jardim botânico, leve água: ao contrário do Brasil, não se encontra vendedores ambulantes em nenhum local.
Palácio Salvo, uma das atrações turísticas da cidade. 

Um dos locais mais interessantes da cidade é o Palácio Salvo, com a sua arquitetura única. Construído em... el foi durante algum tempo o mais alto da América Latina e ainda hoje está em funcionamento. É possível fazer uma visita orientada paga e subir no mirante, no qual é possível ver uma bela imagem da cidade por cima. 
Vista da cidade a partir do mirante do Palácio Salvo

Palácio Legislativo.


Memorial aos últimos charrúas (índios que habitavam a região) no Jardim Botânico.

A maconha é legalizada no Uruguai e pode ser encontrada em lojas. 

As propagandas da Coca-cola são com pin-ups. 

As lixeiras de Montevideo são uma atração à parte. 

Livraria Más Puro Verso.
Praça Zabala
A cidade fica à beira do rio da Prata. 
Teatro Solis.

Sete cores da Amazônia

 


A região norte tem uma rica mitologia, geralmente desconhecida pela maior parte da população. Essa mitologia é o assunto principal de Sete cores da Amazônia, um livro infantil na forma de quadrinhos com roteiro e cores de Ademar Vieira e desenhos de Tieê Santos.
O livro conta a história de Sarah, uma menina da periferia de Manaus que vai visitar a avó doente no interior. O primeiro ato é uma boa caracterização da periferia da capital do Amazonas, com suas casas de palafita sobre a água e o cotidiano de seus moradores. Destaque para a cena em que a menina brinca com um amigo percorrendo o lago repleto de lixo dentro da carcaça de uma geladeira.
Mas a história se torna realmente interessante quando a menina e sua mãe viajam para o interior. A peregrinação das duas, de barco, ônibus, carona em um caminhão em uma estrada repleta de lama, tudo é mostrado em detalhes de quem conhece a região e sabe retratá-la. No interior, a menina descobre um outro mundo, muito além deste, povoado por cobras grandes, curupiras e mapinguaris.
O livro segue em aventuras com tom poético até o final surpresa, mas absolutamente coerente.
Há de se destacar a arte e as cores em aquarela, que representam bem o olhar infantil da história. Outro aspecto que merece destaque é a fonte criada pelos autores para ser usado na capa do livro, que remete às pinturas indígenas.
O problema fica por capa, que enrola com o tempo. Uma gramatura maior tornaria o papel mais firme e evitaria esse problema.

domingo, março 17, 2024

O mecanismo

 

Nenhuma boa série se sustenta sem um bom vilão. Narcos tinha Pablo Escobar, interpretado magistralmente por Wagner Moura. O Mecanismo tem Enrique Díaz, como o doleiro em torno do qual gira a trama.
A série começa bastante irregular (a maioria das pessoas que conheci que não gostaram assistiram apenas os dois primeiros episódios). A começar pelo som, horrível. Tive que colocar no volume máximo para ouvir. Além disso, Selton Melo parecia não se encontrar no personagem. Além disso, a narração do próprio Melo era exagerada nesses primeiros episódios, com diversas repetições da metáfora sobre o câncer.
É a partir do terceiro episódio que as coisas começam a se ajustar: o som melhora, Selton Melo some da trama para só aparecer depois, a narrativa se torna menos redundante.
Mas, desde o primeiro momento, Enrique Díaz parece à vontade no papel: esperto, irônico, sarcástico, cínico. Seu personagem é o homem que aprendeu a se virar, saindo da pobreza para se tornar rico lavando dinheiro. É alguém que sabe como as coisas funcionam e resolveu tirar proveito – em todos os sentidos. Logo no começo ele diz que com o dinheiro gasto para fazer uma refinaria dava para fazer duas. Na boca de qualquer outro personagem pareceria didático, forçado. Na boca dele parece natural.
Aos poucos, no entanto, a série vai tomando forma, torna-se menos arrastada, trabalha melhor o suspense, a narração surge apenas em momentos-chave, os atores vão se adequando melhor ao papel... e Enrique Díaz continua roubando cena. Na verdade, ao contrário do filme sobre a Lavajato, que tem algumas das atuações mais lamentáveis que já vi na minha vida, em O mecanismo a maioria dos atores está muito bem, em especial após o terceiro episódio. Enquanto no filme o personagem de Moro parece apenas um comediante querendo parecer sério, no seriado há toda uma sutileza. Duas cenas destacam essa sutileza de atuação: quando as pessoas começam a bater panela, o juiz vai à sacada, seu sorriso e brilho no olhar são quase imperceptíveis, mas estão ali, demonstrações de seu ego (e provavelmente de seu posicionamento político).
O roteiro oscila bem entre os vários fatos, muitas vezes em narrativas paralelas que destacam o suspense ( recurso que Padilha já havia usado bem em Narcos) e, tirando os dois primeiros episódios, a série pega um bom ritmo.
A série provocou toda uma polêmica, em especial graças à fala de Jucá (precisamos estancar a sangria), colocada na boca de Lula. Deu certo. A polêmica foi enorme, o que levou muita gente a assistir ao seriado por pura curiosidade, as ações da Netflix subiram e a série foi confirmada para uma segunda temporada. 
As revelações da Vasa Jato, no entanto, que mostraram as conversas entre o juiz do caso e os procuradores combinando sentenças, devem ter estimulado o diretor a desistir do projeto. O fato de Moro ter entrado no governo Bolsonaro também não deve ter ajudado. Afinal Padilha teve de fugir do Brasil em decorrência de tentativas de assassinato e ameaças da milícias. 

Fundo do baú - TV Pirata

 



TV Pirata, a série de humor revolucionária da Rede Globo, surgiu de uma atração da concorrente Bandeirantes. No ano de 1987 a Band apresentou o programa de fim de ano Wandergleyson show, escrito pelos integrantes do jornal Planeta Diário e da revista Casseta Popular. As duas publicações vinham revolucionando o humor com seu texto totalmente anárquico e desprovido de amarras. O programa era protagonizado por Pedro Cardoso e Luiz Fernando Guimarães e apresentava esquetes fechados, algo incomum numa época de personagens recorrentes. Boni, o chefão da Globo, assistiu ao especial e contratou imediatamente a trupe de roteiristas.

Para dirigir foi chamado Guel Arraes, que já vinha mostrando grande inventividade na série Armação Ilimitada. O elenco era composto por atores e atrizes na sua maioria novatos na comédia televisiva, como Luiz Fernando Guimarães, Marco Nanini, Ney Latorraca, Guilherme Karan, Cláudia Raia e Débora Bloch.

Com forte inspiração no grupo inglês Monthy Piton, a TV Pirata quebrava com todos os paradigmas do humor televisivo brasileiro (até então baseado na tradição radiofônica) e satirizava tudo, em especial as atrações da própria Rede Globo, como as novelas. A abertura, com um telejornal sendo invadido por um grupo de piratas que colocava sua fita no ar representava perfeitamente esse tipo de humor non-sense.

Era possível, por exemplo, os personagens estarem dirigindo um carro e saírem do mesmo em movimento, mostrando os bastidores da gravação em cromaqui e do veículo cenográfico. Em dos esquetes, soldados na guerra do Vietnã pedem uma pizza enquanto estão sob fogo cruzado.

Alguns quadros beiravam o absurdo, como o Piada em debate, em que “especialistas” discutiam aspectos sociológicos de anedotas. Até mesmo programas como Globo Rural eram satirizados (virou Campo Rural).

Embora o foco da atração não fossem os personagens fixos, pelo menos um ganhou a simpatia do público e se tornou uma verdadeira sensação nacional: o velho Barbosa, interpretado por Ney Latorraca e seu famoso bordão “Barboooosa”, que as pessoas adoravam imitar. O personagem surgiu em Fogo no rabo, sátira da novela Roda de Fogo.

Outro que se tornou famoso foi o Zeca Bordoada, apresentador da TV Macho, versão satírica do TV Mulher.

TV Pirata renovou o humor televisivo e abriu caminho para outros programas, como o Casseta e Planeta Urgente.

Não existe pré-projeto de pesquisa

 


A palavra projeto vem do latim “projectu”, que significa lançar para a frente. Ou seja, é algo que ainda não existe, é algo que está sendo projetado, que só existirá concretamente no futuro.
Em ciência, projeto significa um planejamento da pesquisa, com tema, delimitação, problema, hipótese, metodologia etc. O futuro do projeto dará origema algo pronto, seja um artigo, uma monografia, uma dissertação de mestrado, uma tese.
No entanto, de uns tempos para cá tornou-se comum usar a expressão ‘pré-projeto” de pesquisa. Como é necessário nomear o projeto final, passaram a usar projeto para o resultado da pesquisa. Assim, a monografia vira um projeto, subvertendo completamente o sentido da palavra “projeto”. Se está pronto, não pode ser projeto.
A situação é tão bizarra que dia desses um amigo arquiteto disse que ia me mostrar o projeto de um prédio. Achei que fosse uma maquete, ou uma planta baixa. Cheguei lá era o prédio pronto.
Provavelmente, em algum momento alguém leu um projeto de pesquisa e comentou que estava tão ruim que não era nem um projeto, mas um pré-projeto, ou seja um esboço. Alguém ouviu, achou a palavra bonita e pensou que fosse um elogio. E aí começou a confusão de se chamar o produto final de projeto e o que vem antes de “pré-projeto”.
Então, crianças: não existe pré-projeto. Se ainda não está pronto, se é apenas um planejamento, é projeto. E o produto final é o produto final, não um projeto, seja uma monografia, uma dissertação ou um edifício. 

Terra do meio - um paraíso amazônico nas proximidades de Belém

 


Uma boa dica para quem está visitando Belém é conhecer a Terra do Meio. Trata-se de um balneário-restaurante na cidade de Marituba. Nas redes sociais deles, eles se descrevem como "um restaurante com igarapé. Não há música alta e não há cervejão e festa do litrão". Ou seja, é um local para ficar em paz, curtindo a natureza e delicíosa comida do local (a caldeirada de peixe deles é famosa). 

Terra do Meio: coisas boas acontecem com pessoas boas. 


O resturante rural foi idealizado por André da Costa Nunes, que nasceu nesse local rodeado de cachoeiras e floresta. Quando voltou para o local no final dos 60, perseguido pela ditadura, a Terra do Meio já não era mais a mesma. A floresta estava devastada e o rio estava quase sumindo. O velho André reflorestou o local e o rio reviveu. Nos anos 70 abriu um restaurante, que até hoje é um dos melhores pontos turísticos do estado do Pará. 



O local conta com um pequeno museu com móveis e louça de época e caricaturas do Velho André. 

Chegar ao local é fácil: Quem vai no sentido Belém-Marituba, passando 1.600m da Polícia Rodoviária Federal de Ananindeua, você vai ver um posto de gasolina da Petrobras, logo em seguida duas lojas de implementos agrícolas, a COMAFE e a Sitiio's Ltda. A Rua Uriboca Velha fica entre essas duas lojas. Depois de entrar nessa rua, ande 3.000m e você chegará ao Restaurante Rural Terra do Meio.






MAD especial quadrinhos

 


De todas as revistas que eu perdi numa das muitas mudanças, a que eu mais me arrependo foi um número especial da MAD dedicado aos quadrinhos da editora Record.

Lembro que ia viajar de ônibus e antes passei na banca do Zé, no São Brás (atualmente o último sebo de rua de Belém) e comprei essa edição. Enquanto esperava para embarcar, lia e gargalhava a ponto de chamar a atenção dos outros passageiros.

Recentemente consegui uma versão em scan dessa revista e me surpreendi em perceber o quanto esse material até hoje parece muito bom.

A reunião de talentos era realmente incrível: Wallace Wood, Don Martin, Sérgio Aragonés... só para citar os mais famosos.

Entre as que eu mais lembrava estava a versão do Superman de Wood, traduzido como Superomi. A história era simplesmente repleta de piadas de fundo, como cartazes pregados nas paredes com mensagens do tipo: “Proibido pregar cartazes”. 



Wood parecia disposto a colocar o máximo de anedotas no menor espaço possível. Fico imaginando o quanto esse tipo de humor influenciou filmes como Apertem os cintos o piloto sumiu. E, olhando em retrospecto, teve influência sobre todos os roteiros de humor que já fiz.  



Outra história desenhada por Wood que me arrancou gargalhadas era uma em que se imaginava o que aconteceria com os personagens de quadrinhos se eles tivesse envelhecido ao invés de se manterem com a mesma idade. Entre as várias sequências, um Super-homem que não tem mais peito ou dentes – e portanto não tem como segurar as balas.



Hoje pode não ser tão conhecido, mas Dom Martin era uma verdeira sensação nas décadas de 70 e 80, a ponto da Mad lançar livros apenas com trabalhos dele. Nessa edição, um trecho de uma história sobre Zorro é digna de nota. Zorro deixa Tonto cuidando dos cavalos e quando volta pergunta se passou muito tempo fora, ao que Tonto responde batendo os pés no chão, como faria um... cavalo! Um humor totalmente visual que só seria possível nos quadrinhos. 



Algo que não lembrava era a quantidade de histórias envolvendo os peanuts. Ao que parece, o sucesso da tira (provavelmente alavancada pelo desenho animado) era estrondoso na época, a ponto de se tornar o personagem mais popular do período. Uma das histórias brinca exatamente com isso, imaginando se o sucesso teria mexido com a cabeça dos personagens.

A mad poderia ser muito boa para falar de política, filmes, seriados, mas era simplesmente insuperável quando falava de quadrinhos.